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Essa doença vai acabar com todos os nossos velhinhos (Santa Rosa do Castanho)

Tratamento de casos de COVID-19 com comorbidades na comunidade de Santa Rosa do Castanho
Published : March 18, 2022

Na comunidade de Santa Rosa, no Igarapé Castanho, moram atualmente 12 famílias de diferentes etnias: Desana, Yuhupdëh, Yepamasã, Tukano e Hupd'äh. No dia 19 de Julho de 2021, a equipe de pesquisadores entrevistou o Conselheiro Local de Saúde Indígena Inácio Macedo Barbosa e o professor Cristovão Massa Moura. 

Quando ouviram sobre a pandemia de COVID-19, os moradores ficaram muito assustados, pois pensaram que a doença ia matar a todos. Inácio Barbosa relatou que os moradores da comunidade começaram a comentar: “essa doença vai acabar com todos os nossos velhinhos e vai levar ao óbito”. Felizmente, ninguém da comunidade foi a óbito. Hoje, todos os moradores maiores de 15 anos de idade estão vacinados com as duas doses. 

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Entrevistas a Cristovão Massa Moura e Inácio Macedo Barbosa, em Santa Rosa do Castanho

Entrevistas a Inácio Macedo Barbosa, Conselheiro Local de Saúde Indígena, e Cristovão Massa Moura, professor, da comunidade de Santa Rosa do Castanho, no 19/07/2021.

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Entrevistas a Cristovão Massa Moura e Inácio Macedo Barbosa, em Santa Rosa do Castanho

Entrevistas a Inácio Macedo Barbosa, Conselheiro Local de Saúde Indígena, e Cristovão Massa Moura, professor, da comunidade de Santa Rosa do Castanho, no 19/07/2021.

Para enfrentar a COVID-19, usaram principalmente remédios preparados a partir de plantas medicinais e benzimentos, como já faziam com outras doenças. O professor Cristovão Moura contou que a maior parte das doenças que afetam a comunidade é tratada pelo Kumu da comunidade. 

Uma grande dificuldade que enfrentaram para cuidar das pessoas que se infectaram foi combinar o tratamento para a COVID-19 com o tratamento para outras doenças, como a malária, por exemplo. Inácio contou que sua mãe estava com malária quando pegou COVID-19. Como ele ainda sabia pouco sobre como tratar a COVID-19, decidiu primeiro tratar da malária e, depois, da COVID-19. 

Segundo o Conselheiro Local, foi a própria Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) quem trouxe a COVID-19 para a região. Profissionais da EMSI do Pólo Base São José II estavam infectados e foram o vetor de contaminação do vírus quando entraram em área na cabeceira do Castanho (na comunidade Trovão). 

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Foto de Cristovão Massa Moura, em Santa Rosa do Castanho

Foto de Cristovão Massa Moura, professor da comunidade de Santa Rosa do Castanho, em 19/07/2021.

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Foto de Cristovão Massa Moura, em Santa Rosa do Castanho

Foto de Cristovão Massa Moura, professor da comunidade de Santa Rosa do Castanho, em 19/07/2021.

Inácio apontou para a necessidade de que a EMSI realize mais visitas à comunidade. Atualmente, a equipe tem visitado a comunidade apenas uma vez por mês, pois passa apenas 15 dias em área. Isso acontece pois, como a área do Castanho é bastante grande, as duas equipes do Pólo Base São José II se dividem: uma equipe fica no beiradão e a outra nos igarapés pequenos. Seria muito melhor, na visão do Conselheiro Local, que cada uma dessas equipes passasse 30 dias em área. 

O professor Cristovão Moura apontou que outro fator que prejudica o atendimento da EMSI na comunidade é a falta de apoio e a precarização do trabalho do Agente Indígena de Saúde (AIS) da comunidade. Segundo o professor, o AIS enfrenta grandes dificuldades para realizar seu trabalho, pois faltam equipamentos e insumos (como gasolina para fazer as remoções, por exemplo). Além disso, o AIS recebe pouco suporte da EMSI, além de faltar uma formação continuada adequada.

Santa Rosa do Castanho, bem como em outras 7 comunidades da região de abrangência do Pólo-Base São José II, a equipe realizou um exercício de avaliação coletiva da qualidade dos serviços, usando uma ferramenta chamada ‘Cartão de Pontuação Comunitária’. Este exercício permitiu mapear os aspectos onde as comunidades perceberam uma melhora na qualidade da atenção em decorrência da resposta à pandemia, e onde consideraram que a qualidade do serviço havia piorado ou ficado igual. Também permitiu identificar onde a pontuação dada por uma comunidade espelha o resultado geral da região, e onde tem diferenças importantes entre as comunidades na avaliação que fazem dos serviços. Em 2021, para a avaliação da qualidade da atenção à saúde, as comunidades atribuíram notas de 1 a 6 pontos para diferentes indicadores, sendo 1 a pior nota e 6 a melhor nota). 

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Cartão de Pontuação Comunitário de Santa Rosa do Castanho - 2021

Cartão de Pontuação Comunitário de Santa Rosa do Castanho comparando a qualidade da atenção à saúde nos períodos anterior e posterior à pandemia de COVID-19.

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Cartão de Pontuação Comunitário de Santa Rosa do Castanho - 2021

Cartão de Pontuação Comunitário de Santa Rosa do Castanho comparando a qualidade da atenção à saúde nos períodos anterior e posterior à pandemia de COVID-19.

Enfatizando como problemas o pouco apoio dado ao AIS e a falta de articulação do AIS à EMSI, a avaliação da comunidade (2,0 = ruim) aproxima-se da classificação regional que qualificou como "ruim" (2,4 pontos) o apoio ao AIS e à relação deste com a EMSI, sendo que 2,0 pontos (ruim) foi média da nota dada pelas comunidades do rio Castanho para esse indicador. Além de Santa Rosa, o problema causado pelo vazio assistencial e pelo tempo reduzido de permanência na comunidade dos atendimentos foi também ressaltado na avaliação regional, cuja pontuação média atribuída foi 2,8 (regular) para a qualidade de atendimento/vazio assistencial e 2,9 (regular) para o tempo de permanência das EMSI nas comunidades. 


Para a melhoria da atenção à saúde da comunidade, os entrevistados ressaltaram a necessidade de que a EMSI visite a comunidade com mais frequência (pelo menos duas vezes por mês). Além disso, enfatizaram que é fundamental que o AIS tenha acesso a equipamentos, insumos e formação continuada para poder realizar o cuidado e acompanhamento dos pacientes. 

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Foto de Inácio Macedo Barbosa, em Santa Rosa do Castanho

Foto de Inácio Macedo Barbosa, Conselheiro Local de Saúde Indígena, em Santa Rosa do Castanho, em 19/07/2021.

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Foto de Inácio Macedo Barbosa, em Santa Rosa do Castanho

Foto de Inácio Macedo Barbosa, Conselheiro Local de Saúde Indígena, em Santa Rosa do Castanho, em 19/07/2021.

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Entrevista 1 - Sta. Rosa do Castanho - Áudio em língua Tukano - 18.07.2021

Entrevista 1 – Sta. Rosa do Castanho – Áudio em língua Tukano – 18.07.2021

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Entrevista 1 - Sta. Rosa do Castanho - Áudio em língua Tukano - 18.07.2021

Entrevista 1 – Sta. Rosa do Castanho – Áudio em língua Tukano – 18.07.2021

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Entrevista 2 - Sta. Rosa do Castanho - Áudio em língua Tukano - 19.07.2021

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Entrevista 2 - Sta. Rosa do Castanho - Áudio em língua Tukano - 19.07.2021

Entrevista 2 – Sta. Rosa do Castanho – Áudio em língua Tukano – 19.07.2021